Quando a ressonância da ATM não acusa nada

Muitas vezes escuto ou vejo nas comunidades de ATM pela internet alguém dizer com desapontamento: “não deu nada na minha ressonância!”, então decidi escrever um pouco sobre como e porquê esse exame é utilizado para estudar as patologias têmporo-mandibulares.
De forma simplista a Imagem por Ressonância Magnética (IRM ou como costuma-se usar por aqui, só RM) na área de saúde é uma técnica que se utiliza de certas propriedades do hidrogênio para produzir imagens dos tecidos moles do corpo humano pois o hidrogênio está presente na água e gordura.

Para a ATM, o objetivo principal é visualizar o disco articular e ligamentos, entretanto há muito mais detalhes que podem ser vistos também.

Quando o laudo da RM vem escrito que está tudo normal, três possibilidades são mais as mais comuns: 1.de fato o paciente não tem nada mesmo (que é muito raro em pessoas que têm sintomas de DTM), 2. o radiologista que emitiu o laudo não sabia exatamente o que procurar (que é bem freqüente) ou 3. o exame não tem a qualidade necessária para ver os detalhes que precisam ser vistos.

Isso significa que muitos pacientes pensam que não têm nada na ATM e ficam desesperados porque ninguém acha o motivo da dor deles, enquanto que os dentistas e médicos que recebem estes exames pensam que a DTM é só muscular, já que não tem nada “articular”.

E então por quê o laudo vem escrito que está tudo normal?
Retornando às situações que mencionei acima:
1. Quando o paciente não tem nada mesmo.
Pode acontecer, afinal existem muitas pessoas que não tem problema na ATM, entretanto é muito raro que uma pessoa que tenha sintomas de uma disfunção não tenha uma alteração estrutural envolvida (embora não seja impossível). Se não há nada MESMO na RM então é preciso checar se não há outra doença que esteja simulando os sintomas de uma DTM. O difícil é saber quando não há nada “MESMO” na RM… O que nos leva ao item seguinte.

2. Quando o radiologista que deu o laudo não sabia exatamente o que procurar.
Antes de tudo, isso não quer dizer que o radiologista seja ruim, mas sim que ele não tinha as informações clínicas necessárias para direcionar a busca dele no exame de imagem ou que ele não tem um treinamento adequado em patologias da ATM, afinal nem todo curso de especialização em radiologia aborda de forma profunda a ATM.
Para minimizar este problema, muitos centros de imagem fazem um questionário prévio com o paciente para ajudar a orientar o exame, mas estes questionários não é uma avaliação completa como a feita pelo clínico. Então o quadro fica assim: o clínico (o dentista especialista em ATM, ou buco-maxilo ou médico, etc) não tem uma formação muito profunda em imagem e o radiologista não tem as informações clínicas do paciente … Desta forma, é evidente que muitos problemas mais sutis podem passar despercebido na RM.

3. Quando o exame não tem a qualidade necessária para ver os detalhes que precisam ser vistos.
Esse é bem comum. Com muita freqüência os centros de imagem fazem os cortes na angulação incorreta o que prejudica a visualização da anatomia e posição de certas estruturas. Outra coisa que acontece muito é que o aparelho de ressonância do centro de imagem não possua a bobina específica para ATM, de forma que acabam por usar a bobina de crânio ou de outra parte do corpo (como essa imagem ao lado). Isso faz com que imagens de estruturas pequenas fiquem mescladas ou pouco nítidas, perdendo detalhes muito importantes.


Então, o que eu posso dizer é que, caso o exame que você fez não tenha acusado nada, não se desespere pensando que ninguém descobre nada sobre seu problema. Procure outros profissionais e cheque com o centro de imagem as condições técnicas do exame (a questão da bobina de ATM em especial).